Conservação de energia elétrica, combate ao desperdício, eficiência energética. Certamente você já ouviu falar em pelo menos uma dessas expressões – senão em todas. Em suma, elas têm o mesmo significado e objetivo, visam a utilização eficiente e racional da energia elétrica.
“Com a primeira crise do petróleo, veio a preocupação mundial em utilizar processos mais eficientes com relação à energia elétrica. O objetivo era minimizar a dependência do petróleo”, explica Dario Soares, gerente da divisão de eficiência energética e desenvolvimento tecnológico da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).
Empresa estatal do grupo Eletrobrás, a Chesf fez parceria com o Programa Brasileiro de Conservação de Energia Elétrica (Procel), atuando no “ReLuz”. “O Procel tem vários subprogramas. O ‘ReLuz’ é um deles e existe há nove anos, proporcionando melhorias no sistema de iluminação pública, substituindo equipamentos de tecnologia ultrapassada, por equipamentos novos e mais eficientes”, comenta Dario.
Mas e no nosso dia-a-dia, como utilizar energia elétrica de forma eficiente e racional? Temos à nossa disposição, no mercado, equipamentos que são classificados de acordo com a respectiva eficiência nesta área, como condicionadores de ar, lâmpadas, televisão, geladeiras, microondas.
O Inmetro, através do Programa Brasileiro de Etiquetagem, alerta o consumidor quanto à eficiência energética desses produtos, que ainda podem receber um selo de melhor desempenho energético em sua categoria. Estamos falando do selo Procel.
Dessa forma, o público pode selecionar produtos de maior eficiência em relação ao consumo e melhor utilizar os eletrodomésticos, gerando economia nos custos de energia. No entanto, a analista de eficiência energética, Lídice Carvalho, da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), faz um alerta. “O consumidor precisa saber usar o equipamento. Não basta que este seja o mais eficiente. É preciso também haver conscientização, fazer uso de forma adequada”, ressalva.
O assunto também chegou à indústria da construção civil. Preocupada com o meio ambiente e com a qualidade de vida das pessoas, o setor começou a trazer soluções eficientes para seus edifícios comerciais e residenciais, respeitando sempre as peculiaridades de cada região e suas diferenças climáticas.
“Não se pode discutir sobre eficiência energética no Nordeste da mesma forma que no Sul do país. Aqui no Nordeste, o nascente é mais valorizado. Já no Sul, acontece o contrário”, diz José Antônio, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
Ter condicionadores de ar ou geladeiras eficientes, em nossos apartamentos ou salas comerciais, não basta. O projeto dos edifícios também precisa ser eficiente. Fachadas ventiladas ou materiais de revestimentos que possibilitem menos aquecimento interno são boas opções. Para que o consumidor saiba “onde está pisando”, o Inmetro, com o apoio do Procel Edifica, criou um selo que classifica os edifícios comerciais, seja de serviço ou público, quanto à eficiência energética.
A etiqueta é dividida em quatro partes: envoltória, sistema de iluminação, sistema de condicionamento de ar e edificação. Todos os requisitos têm níveis de eficiência que variam de A (mais eficiente) a E (menos eficiente). Um edifício com classificações A nos três requisitos parciais: envoltória, iluminação e condicionamento de ar, está em condições de obter o Selo Procel.
“É preciso diferenciar os edifícios que gastam mais dos que gastam menos. O consumidor tem o direito de saber”, enfatiza José Antônio. E completa: “Em um prédio mais eficiente, a conta de luz é mais barata, a conta de água também. Consequentemente, isso irá refletir no valor do seu condomínio”.
A etiqueta não será apenas aplicada em novas construções. As edificações mais antigas e ineficientes também podem receber o selo, desde que sejam adaptadas. Algumas reformas podem ter o custo muito alto, porém, existem soluções mais viáveis, como trocar o sistema de iluminação ou ar-condicionados que estejam no fim da vida útil, por outro mais eficiente.
Quarenta e cinco por cento da energia elétrica do país é consumida por edifícios comerciais e residenciais. Um projeto arquitetônico eficiente pode reduzir o consumo da edificação entre 30% e 50%. Pensando nisso, a construtora Rio Ave, no Recife, estado de Pernambuco, sempre investiu em soluções eficientes na construção dos seus edifícios.
“Há mais de dez anos, nossas construções são feitas com fachadas ventiladas. Agora, estamos trabalhando em cima de um projeto que apresenta ganhos de energia no prédio todo. Desde o início, ele foi estudado junto com o arquiteto responsável”, comenta Leonardo Palácio, engenheiro da construtora.
Leonardo se refere aos empresariais Isaac Newton e Alfred Nobel, duas torres que estão sendo erguidas no bairro da Ilha do Leite. As fachadas são feitas em alumínio composto, deixando um colchão de ar entre o alumínio e o bloco da parede. Essa técnica impede que o calor chegue até as salas, proporcionando maior conforto térmico para os consumidores.
Todos os elevadores foram colocados para o poente. “O próprio elevador movimenta o ar, e essa temperatura, muito forte à tarde, não irá chegar aos ambientes”, explica o engenheiro. Outra solução de eficiência energética é o sistema que capta água da chuva e dos drenos dos aparelhos de ar-condicionado para transformá-la em energia.
O engenheiro explica como funciona: “Fizemos um reservatório de 250 mil litros para armazenar essa água que é desperdiçada. Esse reservatório tem uma bomba, que joga a água para a torre de resfriamento e a transforma em energia para o sistema de ar-condicionado. Trocamos água por energia elétrica”.
O investimento em um projeto como este é muito alto. Isso reflete na hora da compra do imóvel. Contudo, é preciso destacar os benefícios para nós, consumidores. Mais economia e maior durabilidade são alguns deles. “Essa é uma cultura que precisamos assimilar com o tempo. Os prédios precisam ser mais eficientes. O ônus é de todos, como o bônus também será para todos”, lembra José Antônio, que finaliza: “Todo mundo sai ganhando, o consumidor e a natureza. Precisamos entender que, para salvar o planeta, todos temos que investir!”
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